quarta-feira, 15 de maio de 2013

A Tradição Bonpo

Gururin

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A tradição espiritual mais antiga do Tibet é a Bön. De acordo com as explicações Bönpo, dezoito mestres iluminados aparecerão neste aeon e Tönpa Shenrab, o fundador da religião Bön, é o mestre iluminado desta era. Ele disse que nasceu na terra mística de Olmo Lung Ring, cuja localidade permanece ainda um mistério. A terra é tradicionalmente descrita como dominada pelo Monte Yung-drung Gu-tzeg (Edifício das Nove Swastikas), que muitos identificam como o Monte Kailash a oeste do Tibet. Devido à sacralidade de Olmo Lung Ring e da montanha, tanto a swastika de sentido anti-horário quanto o número nove são de grande significado na religião Bön.

 

Acredita-se que Tönpa Shenrab primeiro estudou a doutrina Bön no céu, no final do qual ele rogou aos pés do deus da compaixão, Shenla Okar, para guiar o povo deste mundo. Conseqüentemente, com a idade de trinta e um anos ele renunciou ao mundo e tomou uma vida de austeridades, disseminando a doutrina para ajudar os seres imersos em um oceano de miséria e sofrimento. Neste esforço de espalhar a doutrina, ele chegou ao Tibet, na região do Monte Kailash, que é conhecido como a terra de Zhang Zhung, historicamente o assento principal de cultura e doutrina Bön. Registros sobre a vida de Tönpa Shenrab podem ser encontrados nas três principais fontes; mDo-'dus, gZer-migand gZi-brjid. As duas primeiras são tidas como textos Tesouros (gTer-ma) descobertos, de acordo com a história Bön, no século X ou XI. O terceiro pertence à llinhagem do sussurro (sNyan-brgyud) transmitida entre os adeptos.

 

As doutrinas ensinadas por Tonpa Shenrab são geralmente classificadas em dois tipos; primeiro, Os Quatros Portais e Um Cofre (sGo-bzhi mDzod-lizga), onde as quatro primeiras são: a doutrina Água Branca(Chabdkar) que lida com assuntos esotéricos; a doutrina Água Negra (Chab-nag) que lida com narrativas, magia, ritos funerais e ritos de resgate; a doutrina da Terra de Phan ('Phanyul) que contém as regras monásticas e exposições filosóficas; a doutrina do Mentor Divino (dPon-gasa) contendo exclusivamente os ensinamentos da grande perfeição; e finalmente, o Cofre (mTho-thog) que engloba os aspectos essenciais de todos os quatro portais.

 

A segunda classificação, os Nove Caminhos do Bön (Bön theg-pa rim-dgu) é a seguinte: o Caminho da Predição (Phyva-gshen Theg-pa), que descreve sortilégio, astrologia, titual e prognóstico; o Caminho do Mundo Visual (sNang-shen theg-pa), que explica o universo psicofísico; o Caminho da Ilusão ('Phrul-gshen theg-pa), que dá detalhes de ritos para se dispersar forças adversas; o Caminho da Existência (Srid-gshen theg-pa), que explica os rituais de funeral e morte; o Caminho de um Seguidor de um Programa (dGe-bsnyen theg-pa), que contém os dez princípios para uma atividade beneficiente; o Caminho de um Monge (Drnag-srnng theg-pa), no qual as regras e regulamentações monásticas são colocadas; o Caminho do Som Primordial (Adkar theg-pa), que explica a integração de um praticante exaltado numa mandala de iluminação superior; o Caminho do Shen Primordial (Ye-gshen theg-pa), que explica as guias mestras para a procura de um verdadeiro mestre tantrico, e, finalmente, o Caminho de Suprema Doutrina (Bla-med theg-pa), que discute somente a doutrina da grande perfeição.

 

Os Nove Caminhos foram depois sintetizados em três: os primeiros quatro constituíram os Caminhos Causais (rGyui-theg-pa), os quatro subseqüentes formaram os Caminhos Resultantes ('Brns-bu'i-theg-pa) e o nono se tornou o Caminho Insuperável ou o Caminho da Grande Completude (Khyad-par chen-po'i-theg-pa or rDzogs-chen). Tudo isto é encontrado no cânone Bön compilados em mais de 200 volumes classificados em quatro sessões: os sutras (mDa), a perfeição dos ensinamnetos de sabedoria ('Bum), os tantras (rGyud) e o conhecimento (mDzod). Além deles, o cânone lida com outros assuntos tais como os rituais, artes e trabalhos manuais, lógica, medicina, poesia e narativas. É interessante notar que na sessão do Conhecimento (mDzod) concernente à cosmologia e cosmogonia é bem particular do Bön, apesar de haver especulações acadêmicas de que exista uma forte afinidade com certas doutrinas Nyingma.

 

A história nos mostra que com o aumento do patrocínio real ao Budismo, a doutrina Bön foi desencorajada, e foi também perseguida e banida. Praticamente nada se sabe a respeito do Bön no período que vai do século VIII ao século XI. Entretanto, com a implacável devoção e esforço de verdadeiros seguidores como Drenpa Namkha (século IX), Shenchen Kunga (século X) e muitos outros, a doutrina Bön, a religião indígena de Tibet, foi resgatada do obscurantismo e re-estabelecida ao lado do Budismo no Tibet.

 

Desde o século XI, com o estabelecimento de mosteiros como Yeru Ensakha, Kyikhar Rishing, Zangri e os últimos Menri eYungdrung Ling no Tibet Central; e Nangleg Gon, Khyunglung Ngulkar e outros, mais de trezentos mosteiros Bön foram estabelecidos no Tibet antes da ocupação Chinesa. Destes, os mosteiros de Menri eYungdrung foram as principais universidades para o estudo e prática da doutrina Bön. Uma nova avaliação do Bön ocorreu no século XIX sob a assistência de Sharza Tashi Gyeltsen, cuja obra escrita compreendia em dezoito volumes que deram à tradição Bön um novo impulso. Seu seguidor Kagya Khyungtrul Jigmey Namkha treinou muitos discípulos não só na religião Bön, mas em todas as ciências Tibetanas. Entretanto, com a invasão Chinesa noTibet, como as outras tradições espirituais, o Bönismo também sofreu irreparáveis perdas.

 

Pelos eforços do Abade Lungtok Tenpai Gyeltsen Rinpoche, do Venerável Sangyey Tenzin e outros poucos monges mais velhos, uma pequena parte da comunidade Bön se re-estabeleceu com sucesso no mosteiro de Tashi Menri Ling em Dolanji nas colinas perto de Solan em Himachal Pradesh, India, com o aval de Sua Santidade o Dalai Lama e do Conselho para Assuntos Religiosos e Culturais. Por algum tempo este mosteiro foi o único centro importante onde os monges mais jovens podiam receber um treinamento completo dentro da filosofia Bön, mais disciplinas monásticas, e rituais e danças religiosas. Completados ainda com estudo de gramática, medicina, astrologia e poesia, os monges são ainda orientados com uma educação moderna.

 

Ao se concluir com sucesso o curso completo de estudos, que é acessado tanto por meios de exames escritos quanto dialéticos, um monge conquista o Grau Geshey (Doutorado em Bönismo). Este passa então a servir sua comunidade através de ensinamentos, de escritos e assim por diante.

 

Além do Mingye Yungdrungling existe também o Tashi Thaten Ling e outros quatorze mosteiros Bön na Índia e Nepal. Eforços têm sido feito para se estabelecer um Instituto Internacional do Bön no Nepal para fortalecer as atividades religiosas Bön e para apresentar sua doutrina para o resto do mundo.

 

Atualmente o Bonismo, apesar de ter perdido sua posição proeminente, possui muitos seguidores em muitas tribos Tibetanas e em algumas áreas isoladas. Os rituais e as crenças do Bonismo formam uma parte integral da cultura Tibetana. A tradição Bön tem recebido apoio de Sua Santidade o Dalai Lama, que recentemente fêz uma visita de dois dias à Dolanji, onde ficou impressionado pelo grau de conquistas educacionais. Além disto ele fêz uma declaração em 1988 na Conferência Tulku em Sarnath onde enfatizava a importância de se preservar a tradição Bön, como representante das fontes indígenas da cultura Tibetana, e reconhecendo o papel importante que teve na construção da identidade única do Tibet.

 

Extraído do site http://web.prover.com.br/salves/tibsects.htm

http://www.nossacasa.net/SHUNYA/default.asp?menu=427

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