sábado, 28 de fevereiro de 2015

Conversas Ouspensky e Gurdjieff - homens são máquinas

 

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(...) Certo dia em Moscou falava com Gurdjieff (G) sobre Londres, onde estivera por pouco tempo, alguns meses atrás. Dizia-lhe da terrível mecanização que invadia as grandes cidades européias. (...)


O: As pessoas estão se transformando em máquinas e não duvido que um dia se convertam em máquinas perfeitas. Mas será que ainda são capazes de pensar? Não creio. Se tentassem pensar, não seriam tão belas máquinas.
G: Sim é verdade, mas só em parte. A verdadeira questão é essa: de QUE PENSAR se servem em seu trabalho? Se se servem do pensar conveniente, poderão até pensar melhor dentro de sua vida ativa e no meio das máquinas. Mas uma vez mais sob a co dição de se servirem do PENSAMENTO CONVENIENTE.


Em segundo lugar a mecanização de que fala não é em absoluto perigosa. Um homem pode ser um HOMEM, mesmo trabalhando com máquinas. Há outra mecanização mais perigosa: É SER ELE MESMO UMA MÁQUINA. Você já pensou no fato de que todos os homens são eles mesmos máquinas?


O: sim, de um ponto de vista científico todos os homens são máquinas governadas pelas influências exteriores.


G: Científico ou não é a mesma coisa para mim. Peço-lhe que compreenda o que digo. Olhe, todas essas pessoas que vê são máquinas.


O: Creio compreender o que quer dizer e muitas vezes tenho pensado em como são pouco numerosos, no mundo, os que podem resistir a essa forma de mecanização e escolher seu próprio caminho.


G: Ai justamente está SEU ERRO MAIS GRAVE. Pensa que alguma coisa possa escolher seu próprio caminho ou resistir à mecanização; pensa que tudo não é igualmente mecânico.


O: Mas é claro! - exclamei. A arte, a poesia, o pensamento são fenômenos de ordem totalmente diferente.


G: São exatamente da mesma ordem. Estas atividades são tão mecânicas quanto as outras. Os homens são máquinas e de máquinas não poderia se esperar outra coisa que a não ser ações maquinais.


O: As pessoas se parecem muito pouco. Acho impossível colocá-las dentro do mesmo saco. Há selvagens, há intelectuais, há pessoas mecanizadas, há gênios...
G: Exato as pessoas são diferentes, mas A DIFERENÇA REAL entre as pessoas você nem conhece e nem pode ver. Fala de diferenças que simplesmente não existem. Isso deve ser compreendido. Todas as pessoas que você conhece são máquinas trabalhando sob as forças exteriores como você disse. O que vem fazer aqui os selvagens e os intelectuais? Agora mesmo enquanto falamos várias máquinas se esforçam para aniquilarem umas outras (*1a Guerra Mundial). Em que então elas diferem? Onde estão os selvagens e onde estão os intelectuais? São todos a mesma coisa...


O: Que pensa da psicologia moderna?


G: Antes de falar dessa ciência devemos entender do que ela se trata e de que não trata. O objeto próprio dessa ciência são os seres humanos. De que psicologia se trata quando cuidamos apenas de máquinas? É da mecânica e não da psicologia que necessitamos para o estudo das máquinas. Por isso é que começamos pelo estudo da mecânica. Ainda falta um longo caminho para chegarmos à psicologia.


O: Pode um homem deixar de ser máquina?


G: Ah! Aí está toda a questão. Sim, é possível deixar de ser máquina, mas para isso é necessário antes de tudo conhecer a máquina. Uma máquina, uma máquina real , não se conhece a si mesma e não pode conhecer-se. Quando uma máquina se conhece, desde esse instante deixou de ser máquina; pelo menos não é mais a mesma máquina de antes. Já começa a ser responsável por suas ações.


O: Isso significa que um homem não é responsável por suas ações?


G: Um homem é responsável. Uma máquina não é responsável.
(...)


P.D. OUSPENSKY
Fragmentos de um ensinamento desconhecido